Percurso pelo Centro Histórico do Porto - Património da Humanidade

Percurso pedestre pelos pontos mais importantes do Centro Histórico do Porto, reconhecido como Património Cultural da Humanidade pela Unesco em 1996.

Manuel de Sousa

O Centro Histórico do Porto corresponde ao tecido urbano marcado pelas origens medievais da cidade e inclui territórios situados nas freguesias da Sé, São Nicolau, Vitória e Miragaia, para além da Serra do Pilar, em Vila Nova de Gaia.

Apesar de toda a evolução e mutações que ao longo dos tempos se deram no Centro Histórico do Porto, ainda hoje a observação do conjunto urbano que se apoia no velho casco medieval proporciona uma imagem de coerência e de homogeneidade. Sugere imutabilidade e permanência no tempo, constituindo assim um exemplar único de uma paisagem urbana dotada de identidade, forte carácter e qualidade estética. A área classificada pela Unesco como Património Cultural da Humanidade abrange sensivelmente a parte da cidade interior ao traçado da antiga Muralha Fernandina, do séc. XIV, e algumas áreas adjacentes, num total de cerca de 49 hectares.

O percurso terá o seu início no Mosteiro da Serra do Pilar (Largo de Avis, Vila Nova de Gaia), terminando no Teatro Nacional de São João (Praça da Batalha, Porto).

Pontos mais relevantes a visitar:

  1. Mosteiro da Serra do Pilar Antigo mosteiro dos agostinianos, começado a construir em 1538, com projeto de Diogo de Castilho e João de Ruão. As obras estenderam-se até 1670, com a conclusão da Igreja de Nossa Senhora do Pilar. Durante o Cerco do Porto (1832-33) o mosteiro foi reduto das tropas liberais.
  2. Ponte Luís I Esta construção veio substituir a antiga ponte pênsil que existia no mesmo local e foi realizada mediante o projeto do engenheiro Théophile Seyrig, discípulo de Gustave Eiffel. A ponte foi inaugurada em 1886 (tabuleiro superior) e 1888 (tabuleiro inferior). Em 2003 a ponte sofreu profundas obras de reabilitação, sendo o tabuleiro superior adaptado à passagem do Metro do Porto.
  3. Cubelo da cerca primitiva Intervenções arqueológicas recentes vieram relevar a existência de uma muralha castreja, posteriormente romanizada, melhorada e aumentada no séc. XII. Muralha Primitiva, Cerca Velha, Muralha Românica ou, erradamente, Muralha Sueva são designações usadas para identificar esta antiga cintura de muralhas do Porto da qual apenas subsistem um cubelo e um reduzido trecho, reconstruídos em meados do séc. XX. 
  4. Estátua equestre de Vímara Peres Nascido na Galiza e vassalo de Afonso III das Astúrias, Vímara Peres foi responsável pela presúria de Portucale, conquistando definitivamente o território aos muçulmanos no ano de 868. A estátua de Vímara Peres é obra de Salvador Barata Feyo, de 1968.
  5. Antiga Casa da Câmara A antiga Casa da Câmara, também conhecida como Casa dos 24, teve a sua origem no séc. XV, sendo a primeira sede do poder municipal portuense. O edifício entrou em ruínas até que, em 2002, foi alvo de profundas obras de reabilitação num projeto do arquiteto Fernando Távora.
  6.  A catedral foi construída nos séc. XII e XIII, em estilo românico, mas sofreu muitas alterações e acrescentos ao longo dos séculos posteriores. Da época românica datam as linhas gerais da fachada com as torres e a rosácea, além do corpo da igreja de três naves coberto por abóbada de canhão. Na época gótica, construiu-se a capela funerária de João Gordo e o claustro. O exterior da Sé foi ainda muito modificado na época barroca, nomeadamente pelo arquiteto italiano Nicolau Nasoni, que adicionou a galilé barroca à fachada lateral da Sé. Na Sé do Porto casaram o rei D. João I com D. Filipa de Lencastre, em 1387.
  7. Lápide comemorativa da conquista de Lisboa Em 1147, aproveitando a passagem de uma frota oriunda do Norte da Europa e que integrava a Segunda Cruzada, o bispo do Porto Pedro Pitões recebeu os cruzados e, no adro da Sé, fez um emocionante discurso que os convenceu a ajudar D. Afonso Henriques na conquista de Lisboa.
  8. Casa do Cabido Junto à Sé e ao claustro, a Casa do Cabido é um edifício de três pisos da primeira metade do séc. XVIII. No primeiro piso localizavam-se inicialmente os celeiros do Cabido. No segundo piso existem quatro compartimentos abobadados, que atualmente exibe o Tesouro da Sé. No andar superior está localizada a sala capilar, com teto de masseira em caixotões pintado por Giovani Battista.
  9. Paço Episcopal O atual Paço Episcopal do Porto barroco foi erguido no local do antigo paço medieval. É consensual a influência de Nicolau Nasoni no alçado da frontaria, projetando-se em três fachadas facilmente reconhecidas, a norte, ocidente e sul. Deste bloco, de digna imponência, majestosa e elegante, rasgam-se dezenas de janelas barrocas.
  10. Torre de Pedro Pitões Durante séculos, a Torre de Pedro Pitões permaneceu oculta entre o casario existente no local onde atualmente se abre o Terreiro da Sé. Durante a década de 1940, procedeu-se à demolição dos antigos quarteirões em volta da Sé, pondo a descoberto a torre medieval. Dado tratar-se de um exemplar típico das casas-torre medievais, foi decidido preservá-la, sendo o edifício reconstruído sob a orientação do arquiteto Rogério de Azevedo.
  11. Igreja de São Lourenço A Igreja de São Lourenço, popularmente conhecida pela Igreja dos Grilos, foi construída pelos jesuítas em 1577, com forte oposição da câmara e da população, preocupados que o colégio que os religiosos aí pretendiam criar atraísse nobres à cidade. Com a expulsão dos jesuítas em 1759, a igreja albergou os frades descalços de Santo Agostinho, conhecidos como grilos. Durante o Cerco do Porto, o convento foi ocupado pelo Batalhão Académico das tropas liberais, do qual fazia parte Almeida Garrett.
  12. Praça da Ribeira Considerada uma das mais antigas da cidade, a praça é mencionada em cartas régias do séc. XIV. A Muralha Fernandina, concluída por volta de 1370, vedou o acesso direto da praça ao rio que passou a ser feito através da Porta da Ribeira. No séc. XVIII, João de Almada e Melo procurou conferir um cariz monumental ao espaço. No entanto, o plano almadino apenas foi concretizado nas frentes norte – com o monumental chafariz da rua de São João – e poente. A nascente, as construções medievais sobrevivem até hoje. Na década de 1980 foram feitas intervenções arqueológicas no local, pondo a descoberto um chafariz do séc. XVII, no centro da praça. Reconstruído no local original, a fonte foi coroada por uma peça escultórica da autoria de José Rodrigues, conhecida vulgarmente por "Cubo da Ribeira".
  13. Feitoria Inglesa A Feitoria Inglesa é um testemunho vivo da aliança luso-britânica e do peso da comunidade britânica na cidade, grandemente empenhada no comércio do vinho do Porto. Construída em 1785-90, de acordo com um projeto do cônsul inglês John Whitehead, a Feitoria Inglesa é inspirada no estilo palladiano. Outros símbolos da presença britânica na cidade do Porto são o Oporto Cricket and Lawn Tennis Club, fundado em 1855, e a Oporto British School que, fundada em 1894, é a mais antiga escola de estilo britânico no continente europeu.
  14. Postigo do Carvão O Postigo do Carvão foi o único dos 17 postigos e portas da Muralha Fernandina que sobreviveu até hoje. Foi a grande expansão urbana da cidade que extravasou o núcleo inicial em torno da sé, protegido pela Cerca Velha, que obrigou à construção de uma nova cintura de muralhas. Começada em meados do séc. XIV, ainda no tempo de D. Afonso IV, a obra só foi concluída no reinado de D. Fernando, o que explica o facto de ser correntemente designada por Muralha Fernandina. Passada a sua importância militar, grande parte da muralha foi demolida nos séc. XVIII e XIX. O que chegou à atualidade foi classificado como monumento nacional em 1926.
  15. Casa do Infante Em 1325 o rei D. Afonso IV mandou construir neste local a Alfândega do Porto, para onde passaram a ser encaminhadas todas as mercadorias que aportavam à cidade, a fim de ser cobrado o respetivo imposto. O edifício primitivo era constituído por duas altas torres e um pátio central. Anexos ao edifício principal funcionavam a Casa da Moeda e outros serviços da Coroa. Este edifício está intimamente à figura do Infante D. Henrique que, segundo a tradição, aqui nasceu, em 1394. No séc. XIX os serviços alfandegários foram transferidos para a Alfândega Nova, em Miragaia. Classificado como monumento nacional em 1924, a Casa do Infante alberga o Arquivo Histórico Municipal do Porto e um museu.
  16. Igreja de São Francisco A Igreja de São Francisco é o melhor exemplo de arquitetura religiosa gótica no Porto. A construção iniciou-se no séc. XIV, como parte de um convento franciscano. É notável pelo seu conjunto de talha dourada barroca do séc. XVIII. Em 1910 foi classificada como monumento nacional.
  17. Palácio da Bolsa O Palácio da Bolsa, sede da Associação Comercial do Porto, começou a ser construído em 1842, no local onde anteriormente existira o claustro do convento de São Francisco, destruído em 1833, durante o Cerco do Porto. O edifício apresenta traços do neoclássico oitocentista, com influências do palladianismo inglês. Sendo a edifício mais visitado do Porto, merece especial destaque o seu Salão Árabe, com estuques forrados a ouro que preenchem paredes e teto.
  18. Mercado Ferreira Borges Dominando o Jardim do Infante, o Mercado Ferreira Borges foi construído em 1885 e é um excelente exemplar da arquitetura do ferro dos finais do séc. XIX. O Mercado Ferreira Borges é hoje utilizado para exposições e feiras de âmbito cultural.
  19. Miradouro da Vitória O local, de importância estratégica, está ligado ao Cerco do Porto, tendo os liberais aí instalado uma bataria defensiva. O sítio foi muito fustigado pela artilharia absolutista localizada em Vila Nova de Gaia. A contígua Igreja de Nossa Senhora da Vitória ainda ostenta um projétil na sua fachada lateral. Apesar de bastante abandonado, deste local é possível vislumbrar uma das mais aprazíveis vistas da cidade.
  20. Igreja de São Bento da Vitória O Mosteiro de São Bento da Vitória foi erguido em finais do séc. XVI, no local anteriormente ocupado pela Judiaria do Olival. A igreja foi desenhada pelo arquiteto Diogo Marques Lucas, discípulo do italiano Filipe Tércio, em estilo clássico. Depois de ter servido de quartel, a igreja e parte do mosteiro foram confiadas aos beneditinos do Mosteiro de Singeverga, sendo lá também instalado o Arquivo Distrital, assim como a Orquestra do Porto.
  21. Cadeia da Relação O Tribunal da Relação do Porto foi criado em 1582 por Filipe II de Espanha. O edifício atual começou a ser construído em 1765, por iniciativa de João de Almada e Melo, segundo projeto de Eugénio dos Santos, arquiteto da Lisboa pombalina. A prisão acolheu nomes famosos como o duque da Terceira, Camilo Castelo Branco, Ana Plácido, Zé do Telhado, João Chagas, entre outros. Em 1997 foi criado o Centro Português de Fotografia que aqui ficou instalado.
  22. Igreja e torre dos Clérigos A história da Igreja dos Clérigos remonta à irmandade do mesmo nome que resultou da fusão de três instituições de beneficência, com a finalidade de socorrer clérigos em dificuldades. A igreja começou a ser construída em 1732. A torre sineira foi a última construção do conjunto dos Clérigos, do qual faz também parte uma enfermaria. Foi construída entre 1754 e 1763, tem 75 metros de altura e foi, na época, o edifício mais alto de Portugal. Classificado como monumento nacional desde 1910, todo o conjunto foi da autoria do italiano Nicolau Nasoni que aí se encontra sepultado, em local desconhecido.
  23. Palácio das Cardosas Aproveitando a demolição das Muralhas Fernandinas que cercavam a cidade, em 1794 os frades Loios pediram autorização para construir uma nova fachada do seu convento voltada para a Praça das Hortas (atual Praça da Liberdade). A licença foi concedida, mas as obras arrastaram-se e o edifício acabou por ser vendido em hasta pública, após a extinção das ordens religiosas em 1834. Após a morte do seu novo proprietário, o negociante Manuel Cardoso dos Santos, o edifício passou por herança para a mulher e filhas, o que motivou a designação porque ficou o edifício conhecido até hoje, Palácio das Cardosas. Em 2011 foi aí inaugurado o hotel Intercontinental.
  24. Estátua do Porto Idealizada pelo escultor João de Sousa Alão e arrancada ao granito portuense pela mão do mestre pedreiro João da Silva, a estátua O Porto foi esculpida em 1818 destinada a encimar o edifício dos Paços do Concelho. Na época, a Câmara Municipal do Porto estava instalada no palacete de Monteiro Moreira, na praça de D. Pedro (atualmente, da Liberdade). Quando o edifício foi demolido para a construção da Avenida dos Aliados, O Porto foi descido da fachada e andou por vários locais da cidade. Recentemente voltou à Praça da Liberdade.
  25. Estátua equestre D. Pedro IV A estátua de D. Pedro IV, na Praça da Liberdade, é da autoria do escultor Célestin Anatole Calmels e foi inaugurada em 1866. Tem 10 metros de altura e pesa cinco toneladas. A estátua de bronze apresenta D. Pedro IV segurando a Carta Constitucional de 1826 na mão direita. No pedestal são representadas duas cenas da vida do Rei-Soldado: o desembarque do Mindelo e a entrega do coração de D. Pedro ao Porto, depositado até hoje na Igreja da Lapa.
  26. Igreja dos Congregados A Igreja dos Congregados foi construída em 1703 e fazia parte do convento do mesmo nome, extinto em 1833. A capela-mor foi reconstruída no séc. XIX e recebeu pinturas murais de Acácio Lino. Os azulejos da fachada são de autoria de Jorge Colaço e os vitrais de Robert Léone e datam de 1920.
  27. Estação de São Bento A estação ferroviária de São Bento entrou ao serviço em 1896, embora o edifício atual só tenha sido inaugurado em 1916, projeto do arquiteto portuense Marques da Silva. O local foi anteriormente ocupado pelo mosteiro de São Bento de Ave-Maria, erguido no início do séc. XVI pelo rei D. Manuel I. Inicialmente de arquitetura manuelina, o mosteiro foi vítima de um incêndio em 1783, o que levou a que fosse reconstruído em estilo barroco. A arquitetura e decoração interior da atual Estação de São Bento, com painéis de azulejos de Jorge Colaço, levaram a revista Travel + Leisure, em 2011, a considera-la uma das mais belas estações ferroviárias do mundo.
  28. Teatro Nacional de São João Denominado originalmente como Real Teatro de São João, a sua primitiva edificação data de 1794, por determinação de Francisco de Almada e Mendonça, com projeto do italiano Vicente Mazzoneschi, autor do Teatro de São Carlos, em Lisboa. Em 1908 um violento incêndio destruiu completamente o edifício. Em 1920 foi inaugurada a sala atual, da autoria de Marques da Silva. Adquirido pelo Estado português em 1992, o São João foi considerado monumento nacional em 2012.

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